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Fazendo Arte com Camisinha

Vera Paiva

Paiva, Vera Silvia Facciola. Fazendo arte com camisinha sexualidades jovens em tempos de Aids. São Paulo, Summus, 2000. 309 p.
Prefácio, por Richard Parker

“…Dentro de um campo em que os experts e os especialistas oferecem receitas e fazem depósitos de informação nas deficientes contas correntes dos seus destinatários, a professora da USP e os seus colaboradores optam, ao contrário, pela relativização do seu expertise e pelo caminho muito mais árduo da construção coletiva do conhecimento (sobre o corpo, o sexo, a doença, e, acima de tudo, sobre si mesmo). Dentro de um campo teórico em que o individualismo e o comportamentalismo dos Estados Unidos reinam supremos, a equipe do projeto descrito aqui opta, pela tradição da educação popular latino-americana, reinventada com o seu encontro com os novos movimentos sociais no final do século XX (com o feminismo e o movimento da saúde da mulher, com o movimento gay e lésbico e a valorização da aberta discussão da sexualidade na prevenção da AIDS na comunidade gay, e assim por diante). Levando ao pé da letra os ensinamentos do Paulo Freire, os educadores que implementaram este trabalho abriram mão da autoridade do seu próprio discurso para permitir que os jovens falassem com as suas palavras, com os seus sentidos e seus significados, como parte de um processo coletivo de construção. As vozes que falam neste livro, portanto, falam em um diálogo que, em vez de fechar as portas do conhecimento convencional, procura abrir o caminho para a verdadeira conscientização. Em um mundo maior que procura incansavelmente reproduzir os papéis e o poder de gênero como camisa de força, e que oprime violentamente as expressões mais visíveis da diferença sexual, o trabalho aqui relatado opta por desconstruir a masculinidade e a feminilidade tradicional, por ouvir e respeitar a diferença e os diferentes. Dentro de uma sociedade organizada ao redor de tantas exclusões, que carrega na memória coletiva a experiência de ditaduras diversas, a visão aqui construída opta, ao contrário, pela transformação pessoal como parte de um processo maior de transformação coletiva que depende, fundamentalmente, da nossa ação como sujeitos — e da construção do sujeito como, acima de tudo, cidadão.

Fazendo arte com a camisinha! Com a genialidade, a convicção e a esperança que dela é uma característica própria, Vera Paiva nos lembra que até neste final de século, no meio do festival de consumo e desperdício que é o capitalismo globalizado, com desigualdades sociais e econômicas de um tamanho nunca antes visto na história, ainda é possível sonhar com um mundo melhor. Melhor ainda, é necessário sonhar! E nos lembra, acima de tudo, que sonhos são feito com amor e com paixão! O livro da Vera é um livro assumidamente apaixonado. Apaixonado pelo jovens, por suas esperanças e sonhos, pelas ansiedades e incertezas que enfrentam e por sua capacidade de buscar o novo, de buscar a liberdade, e de sonhar, como ela, com um mundo melhor. Apaixonado pela vida e por tudo que é belo no cotidiano. Apaixonado por tudo que é decente e por tudo que é digno na existência dos seres humanos. E por ser apaixonado, é também indignado com tudo e com todos que diminuem ou ultrajam o significado da vida, a dignidade da existência humana, e a solidariedade que, como seres humanos, deveria ser a nossa meta ética-moral mais alta e verdadeira. Com base nesta paixão (e esta indignação com toda forma de injustiça), Vera nos mostra porque a luta contra a AIDS é uma luta pelo verdadeiro sentido de uma vida que vale a pena viver. E é uma luta feita não na teoria, mas na prática — literalmente, com a mão na massa! Longe de ser uma simples “transferência de tecnologia”, como tanto queriam os “técnicos” da AIDS e os “teóricos” da mudança de comportamento, o trabalho da Vera nos demonstra que a prevenção da AIDS é fundamentalmente uma questão política em que o que está em jogo é a nossa capacidade de construir, coletivamente, com as nossas mãos na massa, um mundo mais justo e mais digno. Porque política, como sonhos — para fechar o círculo— é feita de paixão. Fazer arte com a camisinha, quem diria, é um ato político apaixonado! E é com atos políticos apaixonados que se constroi revoluções capazes de transformar o mundo…”
O livro combina a reflexão sobre as abordagens para a prevenção da aids, com a descrição das sexualidades dos jovens que participaram ativamente do projeto descrito num tom de conversa com o leitor. Mostra a cozinha das dificuldades de implementação e do sucesso desses programas.

*Richard Parker é antropólogo, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Columbia University (New York), e da coordenação da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA).

Capítulo 1

AS PRIMEIRAS ABORDAGENS PARA A PREVENÇÃO DA AIDS

• Práticas de risco, sexo seguro e a responsabilidade individual

• Vulnerabilidade social: a sexualidade e o risco socialmente construídos

• Precisamos de uma pedagogia de prevenção e para a cidadania

• O sujeito sexual e os direitos sexuais e reprodutivos- objetivo dos programas educativos

Capítulo 2

CONSTRUINDO AS OFICINAS DE SEXO SEGURO: ESTUDOS PRELIMINARES, PILOTO E TREINAMENTO

• Estudo preliminar e piloto do programa

• Quem eram os jovens do primeiro projeto?

• Grupos separados de garotos e garotas

• Integrando as experiências e modelos internacionais para a prevenção da AIDS

• Parâmetros éticos

• Treinamento de professores e da equipe

• Nós e êles, algumas lições inesquecíveis

Capítulo 3

OFICINAS DE SEXO, REPRODUÇÃO E AIDS

• Primeiro encontro: A AIDS tem a ver comigo?

• Segundo encontro: Avaliando a vulnerabilidade e o simbolismo da AIDS

• Terceiro encontro: Os gêneros do corpo sensual e reprodutivo

• Quarto encontro: Sexo seguro- fazendo arte com a camisinha

• Quinto encontro: Não é fácil combinar e fazer sexo seguro

• Modelo curto: Oficina de sexo seguro e AIDS.

• As reuniões de avaliação

Capítulo 4

É difícil se perceber vulnerável – paginas 60 a 83

• “Ameaça de morte” e “combate à promiscuidade”

• As dificuldades para iniciar o projeto

• A repercussão entre os jovens: “a cara da AIDS”

• Quem fazia a cabeça desses jovens?

• Aids não pode ter nada a ver comigo

• Conversar com os pais e a orientação sistemática e prolongada fazem diferença!

• Escutar o silêncio, as dúvidas e os preconceitos mais comuns deve ser o primeiro passo

• Os personagens da AIDS: trazendo dúvidas e preconceitos para o contexto (labirinto)

Capítulo 5 – OS GÊNEROS, O SENSUAL E O REPRODUTIVO – página 84 a 108

• Sobre sexualidades e os gêneros dos brasileiros

• O que a atividade sexual significa?

• Roteiros de gênero: o que é ser homem? O que é ser mulher?

• “A massa”- os saberes masculino e feminino

• O prazer, a ética e as informações distorcidas

Erótico e reprodutivo

Cenas de gravidez não planejada e o aborto

A opressão dos gêneros sobre homens e mulheres

Capítulo 6 – PRÁTICAS SEXUAIS, CAMISINHA E SEXOS SEGUROS

Porque não usaram a camisinha

Quais os motivos para usar a camisinha?

A camisinha como síntese da relação entre os gêneros

Fazendo arte com a camisinha: ensinando usar e decodificando

Outros recursos para o sexo mais seguro e o respeito aos “sexos diferentes”

Práticas sexuais sem o contexto em que acontecem não existem

Capítulo 7- Scripts e Cenas Sexuais -

Os scritps sexuais

A cena sexual e os scripts femininos e masculinos

A interferência do sujeito sexual na cena

Scripts masculinos e as cenas de violência

As dificuldades para ser sujeito sexual

Capítulo 8 – AVALIANDO RESULTADOS: AS OFICINAS SÃO APENAS UM BOM COMEÇO

Avaliação através do estudo experimental

Avaliação e acompanhamento em grupos pós-oficina

Construindo o uso de camisinha em dois atos

A guerra dos sexos e a pax bélica fazem parte do segundo ato

O surgimento do sujeito-cidadão

Organizar a comunidade para superar as barreiras coletivas

Conclusão- O ESFORÇO VALE À PENA se o horizonte não é pequeno…

Money que é good nóis num have (heavy)

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